A Teoria Ator-Rede (TAR), proposta por Bruno Latour (LATOUR et al., 2015) , oferece um arcabouço teórico inovador para compreender as relações complexas e dinâmicas entre seres humanos e não-humanos em diversos contextos sociais. Ao deslocar o foco da análise sociológica para as associações e interações entre uma variedade de atores, a TAR proporciona insights valiosos para a área de ciência de dados.
A ciência de dados, por sua vez, emerge como um campo interdisciplinar que busca extrair conhecimento a partir de grandes volumes de dados. Nesse contexto, os dados não são meros objetos passivos, mas atores ativos que moldam e são moldados pelos processos de análise. A TAR, ao conceber os não-humanos como atores, estabelece uma ponte conceitual com a ciência de dados, permitindo uma reflexão mais profunda sobre a natureza dos dados e seu papel nas práticas científicas.
Uma das principais contribuições da TAR para a ciência de dados reside na sua ênfase nas relações de co-construção. Ao invés de considerar os dados como dados brutos, a TAR sugere que eles são co-produzidos em um processo de negociação contínua entre diversos atores, incluindo algoritmos, softwares, hardware, pesquisadores e os próprios dados. Essa perspectiva permite uma compreensão mais nuançada dos vieses e limitações inerentes aos processos de análise de dados, bem como das implicações sociais e éticas dessas práticas.
Além disso, a TAR oferece ferramentas conceituais para analisar as redes complexas que se formam em torno dos projetos de ciência de dados. Ao mapear as relações entre os diferentes atores envolvidos, é possível identificar os pontos de atrito, as alianças e as hierarquias que moldam os resultados da análise. Essa abordagem permite uma avaliação mais crítica das tecnologias e metodologias utilizadas na ciência de dados, bem como de seus impactos sociais.
A TAR também contribui para a reflexão sobre a natureza da objetividade na ciência de dados. Ao questionar a ideia de uma realidade objetiva e independente do observador, a TAR sugere que os resultados da análise de dados são sempre contextuais e dependentes das escolhas metodológicas e teóricas dos pesquisadores. Essa perspectiva relativista, embora possa parecer desafiadora, é fundamental para promover uma ciência de dados mais transparente e responsável.
A Teoria Ator-Rede oferece um quadro teórico poderoso para compreender a complexidade da ciência de dados. Ao considerar os dados como atores ativos e ao analisar as relações entre os diversos elementos que compõem os projetos de análise, a TAR permite uma reflexão mais profunda sobre os processos de produção de conhecimento e suas implicações sociais. Ao adotar essa perspectiva, os pesquisadores de dados podem desenvolver práticas mais críticas, reflexivas e engajadas com as questões sociais.
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Referência: LATOUR, Bruno; et al. O todo é sempre menor que as partes: um teste digital acerca das mônadas de Gabriel Tarde. Parágrafo – Revista Científica de Comunicação Social da FIAMFAAM, São Paulo, vol.2, n.3, p.6-25, Jul./Dez de 2015. Disponível em: http://goo.gl/kXDsj2. Acesso em 03/11/2024.