Por Tiago Andrade
O imaginário do que é ser um “pai” nos núcleos familiares, depende muito da cultura e da época. Apesar das inúmeras discussões teóricas, é quase unânime a ideia de que jamais existiram sociedades matriarcais – aquelas em quem as mães centralizam os poderes econômicos e políticos. Então, presumimos que uma das únicas características comuns das concepções de família ao longo do tempo, em diferentes lugares, está associada ao patriarcado.
Com essa figura mental potente do que é “ser pai”, construímos a ideia do provedor. Passando por imaginar desde um caçador, até o homem que trabalha “na rua” para sustentar a família. Historicamente, os papéis de pais e mães eram muito bem definidos, mesmo com raras exceções.
Após a revolução industrial, com o desenvolvimento científico, e as lutas por direitos decorrentes da revolução francesa, os papeis familiares começaram a se misturar. As mulheres começaram a dobrar as funções. Cuidavam das casas e trabalhavam fora, mas os homens não. Nos períodos de guerras, os papéis das mães ficaram ainda mais onerados.
Mas de forma bem lenta, isso vem sendo desconstruído. A maioria das mulheres, já a tempos que exerce o papel que era exclusivo do pai, mas aos poucos, alguns homens começaram a exercer um pouco o papel de mãe.
Se na concepção edípica de Freud, o pai é o rival da criança na atenção da mãe, aquela que satisfaz o bebê, hoje em dia não é simples nem mesmo saber quem faz o que em algumas relações. Ninguém tem tempo para nada. O maior inimigo das crianças na atenção da mãe hoje em dia, é a performance que ela tem que ter no mundo do trabalho.
Além disso, em muitos países e até mesmo no Brasil, de forma lenta, começamos a aceitar um pouco mais outros modelos familiares. Casais não monogâmicos, casais não hétero normativos, pessoas não cis gêneros, e mulheres sustentando as casas e homens cuidando dos lares.
Afinal de contas, o que é ser pai hoje em dia? Se é ser o homem da relação, temos que complexificar o que é ser homem e o que estamos chamando de relação. Se é ser o responsável pelo afastamento da mãe que te satisfaz em uma possível interpretação psicanalítica, temos que entender os múltiplos fatores que exercem esse papel. Se é ser o provedor, teríamos que jogar anos de lutas feministas no lixo.
O que vale mesmo é o que cada um sente. Pai, pode ser o biológico, o religioso, o simbólico, um padrasto, um avô, um tio, um amigo, uma mãe – “pãe”, além disso, podemos ter dois pais ou duas mães, ou simplesmente ninguém. Deveríamos aceitar hoje em dia que cada um tem sua história, e seus sentimentos. Suas presenças ou lacunas destas figuras ditas paternas, e está tudo bem.
O Dia dos Pais, deveria respeitar as histórias, inclusive, das pessoas que não tiveram pais, as que tiveram péssimas experiências com seus pais, ou as pessoas indiferentes a tudo isso. Tem tanto pai péssimo por aí!
O mercado vibra com o consumismo de mais uma data que pode e deve ser cada vez mais ressignificada. Mas no imaginário público, ainda está muito longe disso. As propagandas ainda exaltam a mesma figura paterna, de uma sociedade tradicional, de núcleos familiares idealizados. Mas será que não deveriam dialogar também com quem vive fora da família do comercial de margarina?
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